busque amor novas artes, novo engenho
pera matar-me, e novas esquivanças,
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
olhai de que esperanças me mantenho!
vede que perigosas seguranças!
que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
mas, enquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
amor um mal, que mata e não se vê,
que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como e dói não sei porquê.
luís de camões