sem título



de amor nada mais resta que um outubro
e quanto mais amada mais desisto
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.
e sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.
não me acordes. estou morta na quermesse
dos teus beijos. etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.
mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

natália correia

fusão



não sou eu quem me navega
quem me navega é o mar
é ele quem me navega
como nem fosse levar

timoneiro nunca fui
que eu não sou de velejar
o leme da minha vida
deus é quem faz governar
e quando alguém me pergunta
como se faz pra nadar
explico que eu não navego
quem me navega é o mar

paulinho da viola

e aqui também...



busque amor novas artes, novo engenho
pera matar-me, e novas esquivanças,
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

olhai de que esperanças me mantenho!
vede que perigosas seguranças!
que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

mas, enquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
amor um mal, que mata e não se vê,

que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como e dói não sei porquê.

luís de camões

meu bem



você é meu caminho
meu vinho
meu vício desde o início
estava você
meu balsamo benigno
meu signo
meu guru porto seguro
onde eu voltei
meu mar e minha mãe
meu medo e meu champanhe
visão do espaço sideral
onde o que eu sou se afoga
meu fumo e minha ioga
você é minha droga
paixão e carnaval
meu zen meu bem meu mal
meu zen meu bem meu mal
meu zen meu bem meu mal
meu zen meu bem

gal costa

bem querer



quando o meu bem-querer me vir
estou certa que há de vir atrás
há de me seguir por todos
todos, todos, todos o umbrais

e quando o seu bem-querer mentir
que não vai haver adeus jamais
há de responder com juras
juras, juras, juras imorais

e quando o meu bem-querer sentir
que o amor é coisa tão fugaz
há de me abraçar com a garra
a garra, a garra, a garra dos mortais

e quando o seu bem-querer pedir
pra você ficar um pouco mais
há que me afagar com a calma
a calma, a calma, a calma dos casais

e quando o meu bem-querer ouvir
o meu coração bater demais
há de me rasgar com a fúria
a fúria, a fúria, a fúria dos animais

e quando o seu bem-querer dormir
tome conta que ele sonhe em paz
como alguém que lhe apagasse a luz
vedasse a porta e abrisse o gás

chico buarque

esperança



só a leve esperança, em toda a vida,
disfarça a pena de viver, mais nada;
nem é mais a existência, resumida,
que uma grande esperança malograda.

o eterno sonho da alma desterrada,
sonho que a traz ansiosa e embevecida,
é uma hora feliz, sempre adiada
e que não chega nunca em toda a vida.

essa felicidade que supomos,
árvore milagrosa que sonhamos
toda arredada de dourados pomos,

existe, sim, mas não a alcançamos
porque está sempre apenas onde a pomos
e nunca a pomos onde nós estamos.

vicente de carvalho

over the rainbow




somewhere over the rainbow
way up high,
there's a land that i heard of
once in a lullaby.

somewhere over the rainbow
skies are blue,
and the dreams that you dare to dream
really do come true.

someday i'll wish upon a star
and wake up where the clouds are far
behind me.
where troubles melt like lemon drops
away above the chimney tops
that's where you'll find me.

somewhere over the rainbow
bluebirds fly.
birds fly over the rainbow.
why then, oh why can't i?

if happy little bluebirds fly
beyond the rainbow
why, oh why can't i?

Pesquisar neste blogue