nossos corpos agora estão feridos
por naufrágios ao largo dos açores
e por luas que sangram nos sentidos
quando um amor se vai e morrem flores.
desfazem-se e renascem corpo a corpo
e há sempre um por fazer no já desfeito
há um corpo que salva a nado o outro
quando às vezes o mar entra no leito.
nossos corpos cansados não se cansam
e não perdem mesmo se perdidos
e ainda que tão perto não se alcançam.
por isso por si mesmo feridos
e em suas próprias feridas é que dançam
os deuses que se escondem nos sentidos.
manuel alegre